DILEMAS E NOVOS RUMOS
Sentia que faltava algo na minha proposta inicial que me mobilizasse a ponto de me colocar em ação, fazer imersão na pesquisa. Assim, em conversa com a minha supervisora, resolvi dar um foco na investigação, que não havia pensado a princípio para a escolha das praticantes culturais (que seriam os sujeitos da pesquisa). Logo no inicio da minha entrada no pós-doc, percebi que meu interesse estava se voltando para as professoras universitárias feministas pretas/não brancas que criam conteúdo e fazem ativismos nas redes sociais em busca de uma educação antirracista (não poderia ser qualquer professora). Em relação a metodologia, na pesquisa do doutorado utilizei a pesquisa-formação, conforme proposto por Edméa Santos. Agora, seria a hora de colocar em prática a metodologia que emergiu após os resultados do referido trabalho, "As redes de criação de professoras" é uma metodologia de pesquisa!!!.
Nessa direção, precisei rever meus referenciais teóricos, os objetivos e a metodologia. Daí, ao acompanhar as praticantes na rede, mais especificamente no Instagram, novos dilemas emergiram: como dar conta de um novo referencial teórico em um período tão curto do pós-doc? Conseguirei estudar e analisar os dados construídos? Antes, apenas o referencial que estudei no período do meu doutoramento daria conta para o novo estudo. E a metodologia? Primeira vez, após a sistematização da proposta!!!! Mas, resolvi seguir em frente. Penso que posso iniciar o trabalho, já apontando para uma continuidade futura, como projetos que podem ser colocados em prática logo na minha entrada como docente em um programa de pós-graduação, ou em projetos de extensão e/ou iniciação científica.
OBJETIVOS ANTIGOS
Geral
Compreender as concepções e práticas de autoria docente no cotidiano da universidade.
Específicos
Identificar os móbeis internos e externos dos/das docentes universitários para práticas autorais no contexto da cibercultura;
Compreender o movimento que é gerado na rede de criação docente, o qual envolve pessoas,
objetos e saberes;
Identificar as apropriações e sentidos que os/as docentes desenvolvem em seu fazer
pedagógico, a partir da interação com as tecnologias digitais online e offline
OBJETIVOS ATUAIS
Geral
Compreender as concepções e práticas de autoria docente no cotidiano das redes educativas.
Específicos
Identificar os móbeis internos e externos das docentes universitárias para práticas autorais e ativismos em rede no contexto da cibercultura;
Compreender o movimento que é gerado na rede de criação docente, o qual envolve pessoas,
objetos e saberes;
Identificar as apropriações e sentidos que as docentes desenvolvem em seu fazer
pedagógico, a partir da interação com as tecnologias digitais online e offline
A partir das mudanças, a escolha das praticantes culturais, seguindo os critérios abaixo:
Professoras universitárias não-brancas;
Conteúdos/temas de interesse - relações etnicoraciais, feminismo negro etc;
Imersão nas redes sociais (rastros de criação);
Dialogicidade/interatividade com os seguidores;
Relação temas sociais e educação.
NÃO HÁ FORMAÇÃO SEM DESEJO: UM DOS MÓBEIS DA PESQUISA-FORMAÇÃO/REDES
DA CRIAÇÃO
As mudanças ocorridas no percurso da minha pesquisa me levaram ao capítulo I do livro compreender/mediar a formação: o fundante da educação (2010) de Roberto Sidnei Macedo, mais especificamente ao tópico "Formação e desejo".
A partir da erosformação de Gaston Pineau, Macedo (2010, p. 78) afirma
que a “experiência humana fundante das situações de aprendizagem, o desejo constitui
a erótica implicada à constituição do sujeito e sua formação”. O referido autor
alerta-nos que a educação contemporânea, pautada na racionalidade técnica,
minimiza o desejo de quem se forma, como que se destacando-o, pouco interferirá
no processo formativo. Para ele, essa interpretação equivocada causa consequências
graves na itinerância formativa das praticantes culturais, pois:
O desejo é transversal à
condição humana e, portanto, à formação do sujeito. É fundado, como nos elucida
a psicanálise, no desejo de saber e suas experiências primordiais, implicando
aí projetos de vida, de realizações, de felicidade e possibilidade de viver em
formação e pela formação. (MACEDO, 2010, p. 78).
Macedo nos mostra que a mobilização e a negociação política e ética dos desejos é o que deve permear uma pesquisa-formação/educação para criação/autorias, incluindo as singularidades criativas dos sujeitos em processo formativo, portanto:
Ser autor de si, fundar
autorias, autorizar-se, autonomizar-se formativamente implica desejo existencial,
social e culturalmente negociados no seio da démarche formativa. Errâncias desejantes,
“delírios’ criativos, não podem ser ceifados em nome de uma ordem educacional
rígida que a tudo molda em nome de uma burocracia castradora. (MACEDO, 2010, p.
78-79).
As mutilações e os tempos/prazos impostos pelos processos intitulados como formativos implica em parcialidades, repetições, perversões, frustrações e desistências dos percursos de pesquisa/educação. A análise do estudioso confirma o que sinto eu relação a processos formativos, quando afirma que não há formação sem desejo. Considero o desejo um móbil que impulsiona os sujeitos para a busca, para as descobertas. Para o autor supracitado, a dinâmica desejante na busca de uma realização formativa é extremamente complexa, pois envolve “opacidades, experiências não controladas, dúvidas, digressões, acontecem aqui como fazendo parte de uma lógica que nunca se enquadra nas interpretações que se querem totalmente conscientes, controladas, transparentes e finalizadas” (MACEDO, 2010, p. 78-79). Segundo ele, a busca é mutuamente compreendida e legitimada. “Cuidar do desejo de saber é extremamente formativo” (MACEDO, 2010, p. 80).
Referência:
MACEDO, Roberto. Sidnei. Compreender/mediar a formação: o fundante da educação. Brasília: Liber Livro editora, 2010.
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